A três dias do júri dos dois acusados de participação na morte de Jonhliane Paiva Sousa em um acidente de trânsito ocorrido em agosto de 2020, a mãe da jovem, Raimunda de Paiva, conversou com o g1 e contou que a vida dela nunca mais foi a mesma sem a filha caçula.
O julgamento de Ícaro José da Silva Pinto e Alan Araujo de Lima está marcado para ocorrer nos próximos dias 17 e 18 de maio, na 2ª Vara do Tribunal o Júri e Auditoria Militar da Comarca de Rio Branco.
Ao relembrar o dia do acidente, a voz de Raimunda logo fica trêmula e a emoção toma conta. “E se eu tivesse atrasado minha filha? E se o pneu tivesse amanhecido furado? E se eu tivesse pedido que ela não fosse naquele dia?”.
Essas dúvidas ecoam nos pensamos e no coração da mãe, que não consegue ainda compreender a perda prematura e repentina da filha.
“Foi um choque pra mim. Era 6h, eu estava dormindo quando recebi a notícia. A gente não sabe quando vai acontecer uma coisa dessa. Quem é mãe entende que não é fácil perder um filho. Ela era cheia de sonhos, terminaria a faculdade no final de 2020, estava muito feliz, fazendo planos. Todos os dias durante sete anos ela fazia aquele mesmo trajeto até o trabalho. Aí, vem dois inconsequentes, que estavam bebendo desde quarta-feira, e pela manhã saíram fazendo racha. Por isso quero que pague, por causa da inconsequência de sair, beber e ir dirigir”, desabafou.
Raimunda conta que vendeu a casa onde morava só com Jonhliane na Avenida Antônio da Rocha Viana, mesma rua onde ocorreu o acidente, para morar na zona rural da capital, porque na residência tudo lembrava a filha.
“Morava só eu e ela e agora me encontro sozinha. Não consegui mais morar na casa, porque pra mim estava vendo ela entrando em casa, e também não gosto nem de passar mais pela rua onde aconteceu, porque me volta tudo. Até hoje não posso colocar uma foto da minha filha na estante porque não consigo olhar. Eu espero o que muitas pessoas esperam, que seja feita Justiça. Não quero mais do que isso. O que estou esperando é que se resolva logo, para eles deixarem minha filha descansar e eu tentar seguir minha vida”, disse a mãe.
O que dizem as defesas
Ícaro dirigia a BMW que atropelou e matou Jonhliane e Alan conduzia o outro veículo envolvido no suposto racha. O acidente ocorreu no dia 6 de agosto de 2020 em Rio Branco.
Ao g1, o advogado de Ícaro, Luiz Carlos Neto, limitou-se a criticar o tempo em que os dois acusados estão presos e não comentou sobre qual linha a defesa deve adotar no julgamento.
“Fico muito triste com a prisão desses dois jovens por tanto tempo, mesmo tendo Ícaro se apresentado espontaneamente perante a autoridade policial duas vezes e na primeira vez, sem advogado. Isso tira o crédito da Justiça e isto porque ele cooperou com a mesma e a Justiça mesmo com a entrega espontaneamente pra responder o processo, não o soltou. São quase dois anos de prisão por um atropelamento de trânsito”, pontuou o advogado.
Já a advogada de Alan, Helane Christina Silva, questiona o resultado da perícia e afirma que as testemunhas não confirmam que houve racha entre os dois veículos no dia da morte da jovem.
“Estamos preparados para mostrar a diferença entre o Alan e o Ícaro. Para começar, o Alan não responde por qualquer outro artigo se não um possível racha. Nem as testemunhas afirmam isso, afirmaram em sede policial, segundo o inquérito, porém, em sede judicial negaram essa afirmação. Tanto é que o Ministério Público afirma que está baseando o suposto racha pela perícia, uma perícia usou de 36 câmeras apenas 3 para chegar à suposta velocidade dos carros. Mas, apesar de chegar à velocidade dos carros, nem os próprios peritos afirmam que houve o racha”, afirmou.
Para Helane, o Ministério Público tem usado o suposto racha para que o acusado Ícaro seja condenado pelo crime de homicídio doloso, quando há intenção de matar.
“Se esse crime de racha for comprovado, ele [Ícaro] vai ser condenado por homicídio doloso, mas se não for comprovado, pode ser condenado pela embriaguez ao volante, alta velocidade no trânsito e por homicídio culposo. O Alan está aí só para piorar a situação do Ícaro, já que a lei não prevê que o crime de embriaguez ao volante no trânsito é caracterizado como homicídio doloso. O Alan está no processo somente por uma vingança à morte da Jonhliane, ele não fez nenhum tipo de racha. A linha de defesa sempre foi e vai ser até o final a verdade. Não houve racha em nenhum momento e o Alan está pagando por um crime que nunca cometeu”, frisou.
Uma das advogadas que representa a família de Jonhliane, Gicielle Rodrigues afirmou que acredita que a Justiça vai ser feita e que a sociedade vai dar uma resposta a altura do dano provocado.
“Não se pode comparar o caso Jonhliane Paiva aos casos que envolvem vítimas de trânsito, pois o diferencial consiste no fato de que as circunstâncias apontam para a presença do dolo eventual, situação que os tribunais superiores tratam como crime de homicídio doloso diante da realização de manobras arriscadas, emprego excessivo de velocidade em vias movimentadas e disputas ilegais como racha. É inadmissível que esse tipo de situação volte a acontecer, hoje perdemos a Jonhliane amanhã pode ser qualquer outro cidadão trabalhador de bem, temos fé na Justiça, temos fé que a sociedade dará uma resposta a altura do dano provocado, e esperamos pela condenação.”
Perícia apontou alta velocidade
O inquérito que investigou o caso, foi concluído ainda em setembro de 2020 e os dois condutores foram indiciados pela Polícia Civil. Segundo a perícia, Ícaro, que conduzia a BMW que matou a vítima, estava a uma velocidade estimada de 151 km/h. O motorista do outro carro, Alan, estava a 86 KM/h.
Em maio do ano passado, a dupla envolvida no suposto racha foi pronunciada a Júri popular.
No final do mês de julho, a câmara criminal do Tribunal de Justiça do Acre (TJ-AC) acatou um recurso do Ministério Público do Estado com relação à pronúncia dos réus, para que eles respondam além do homicídio, pelos crimes de racha, por não prestar socorro à vítima, e por fuga do local do acidente. Alan também foi pronunciado pelo crime de dirigir sob efeito de álcool.
Com informações do Portal G1.